Escrito em 29/05/2013
"Solidão. Louca, louquinha. Só te quer porque necessita de atenção."
Bate à porta do velho dono da quitanda na hora dos mortos.
Solidão, sem pestanejar, retira-se do recinto, já pensando em um próximo destino para repousar.Disse-lhe o vento, que largado ao relento, um pobre moço há.Disse-lhe o vento, que largado ao relento, um pobre moço há.- Diga-me, bom homem, o que está a se passar?
- Minha pobre pequenina, o senhor aqui está morto de cansaço e precisa descansar!
Sem nem um minuto passar, lá estava Solidão, a seus ombros acariciar.
- De coisa boa em mim apenas minha saúde, pequena Solidão. Levaram-me minha esposa, meu filho, minha casa e meus irmãos! Tudo por conta do vício no jogo, em que me pôs o pilantra do João. Aquele safado já está há mais de mil quilômetros daqui, às custas de todas as coisas que tirou de mim.
- A me contar tamanhas desventuras, pobre moço, de Solidão me tornarei uma grande Depressão.
- Mas também não és Depressão, menina Solidão?
- Cuma?
- Claro, pequena. Ouça. Todos os que tu fazes companhia têm amargurado coração. Estou certo, sim ou não?
- Então me disseste que tens amargurado coração?
- Foi o que fizestes a ele, menina Solidão.
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quinta-feira, 14 de março de 2013
As sereias
Escrito em 09/03/2011
No meu sonho, eu estava em um lugar desconhecido - não posso descrevê-lo, pois não havia lugar algum. Parecia que tudo a minha volta era branco, ou preto, ou não havia cor nenhuma.
No meu sonho, eu estava em um lugar desconhecido - não posso descrevê-lo, pois não havia lugar algum. Parecia que tudo a minha volta era branco, ou preto, ou não havia cor nenhuma.
Comecei
a ouvir um canto magnífico, encantador, suave, envolvente,
fascinante. Simplesmente caminhei na direção deste canto, como se
não tivesse outro destino, como se não precisasse sair dali. Ali
era o meu lugar e eu ficaria ali para sempre. Caminhei alguns minutos
e o canto começou a parar. Vi algumas pedras. Contornei-as e vi:
três moças, de pele tão branca, tão majestosa, que pareciam
refletir uma luz azulada, luz vinda de um sol inexistente. Tinham
cabelos castanho-claro, que refletiam uma luz dourada. Seus olhos não
tinham cor definida - pareciam ser castanhos, ou verde-escuro; mas
emitiam um brilho suave e enfeitiçador. As moças se banhavam em uma
água cor de chumbo - tão escura quanto cinzas. E me olhavam como se
me convidassem para uma festa irrecusável, ali naquele lago, ou o
quer que fosse. Por um momento, com a pausa de toda a cantoria,
parecia que eu estava lúcida novamente. Não que a sensação de ser
levada pela canção tenha sido ruim, mas parecia que tudo tinha
voltado a ser como antes. Parecia que a vida tinha voltado às velhas
tonalidades de preto-e-branco. Exceto pelas moças que se banhavam no
lago escuro; estupidamente exuberantes, sem fazer esforço algum. Foi
quando o canto começou novamente, e eram elas quem cantavam - a
canção me fez continuar a caminhar. Uma sensação maravilhosa
tomou conta de mim. Isso é incrível, pensei. E então eu
caí. Não sei como aconteceu. Apenas depois de alguns segundos - ou
minutos - senti que estava dentro da água. O tempo passava muito
devagar. Olhando por fora, o lago não sugeria um banho muito
convidativo. Mas quando se mergulhava nele, a sensação era ótima.
Era uma sensação melhor do que a de mergulhar no mar das águas
mais frescas e límpidas. E quando se está imerso no lago, ele não
é mais escuro - a água ganha uma tonalidade azul-esverdeada,
cristalina. Combinava com as caudas das sereias, que tinham a mesma
tonalidade de cor. Sereias?! Gritei, minha voz abafada pela
água. Não deixei de levar um susto, mas as caudas delas eram
encantadoras aos olhos, possuíam uma beleza maravilhosa. Refletiam
pequenos raios de luzes azuis e verdes, suas escamas pareciam
diamantes coloridos. As moças que se banhavam no lago eram sereias,
afinal. E o canto continuava baixinho, muito ao longe. Mas eu tinha
recuperado toda a minha lucidez. E mesmo assim estava literalmente
enfeitiçada; não mais pela canção que quase não existia naquele
momento, e sim pela dança que aquelas moças faziam, com suas
caudas. Era uma coreografia perfeita, e era encantador. Elas
começaram a chegar perto de mim, e senti medo, mas não queria
fugir. Me despiram delicadamente e não soube o que exatamente
aconteceu depois. Apenas quando abri os olhos novamente, vi: eu tinha
caudas iguais às delas; tinha a mesma luz azulada emanando de mim e
também tinha aquela majestosidade que as outras moças possuíam. Me
sentia encantadora, com uma aura delicada, porém forte e
invencível.
E aí eu acordei com frio. Peguei outro cobertor e voltei a dormir.
E aí eu acordei com frio. Peguei outro cobertor e voltei a dormir.
Medo da morte?
Escrito em 05/05/2012
O medo em relação à morte é ambíguo.
O medo em relação à morte é ambíguo.
Natural
é temer o fim da vida. Natural é alguém se sentir desesperado ao
pensar na possibilidade de existir um fim para a vida.
Mas não
é natural ter medo de não morrer. Se desesperar pela possibilidade
de a morte chegar naturalmente apenas muito tempo depois do desejado.
Desesperador
é, de fato, pensar que a única saída para essa possibilidade é
fazê-la chegar de modo não-natural.
Medo em
relação à vida todo o ser humano tem, embora poucos tenham coragem
de admitir, mesmo que para si mesmos. E a falta de amor à vida
alguns também têm. Se o medo de não morrer não é natural,
gostaria de saber o que é...
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